quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um diálogo que vou querer lembrar

_ Vai ficar por aí?
_ Não, estou de passagem.
_ Certo, mas preciso falar com você. E também estou de passagem, já que só vou falar sobre isso uma vez.
_ Tudo bem. Tenho alguns minutos para ouvir com atenção.
_ É que hoje de manhã sonhei com você, sabe-se lá o porquê.
_ ...
_ Sabia que você ia fazer essa cara. Mas, sabe, eu amo muito minha namorada, respeito muito o que ela sente por mim e o que sinto por ela. Só que, algumas vezes, parece inevitável não pensar em você com desejo e, muitas vezes, não dá nem pra não pensar em você. Pronto, falei. Termino aqui porque, só de falar com você sobre isso, acho que já começo a trair. Mas eu tinha que falar, você me conhece.
_ Olha, eu te quero muito bem. Sabe disso. Me sinto lisonjeada quando escuto algo
assim, mas não vejo o que isso muda para nós. Pelo menos agora. Veja bem: fazer escolhas é importante. Você escolheu viver o que vive hoje, eu também e estou muito feliz com isso. Por outro lado, o futuro é o incerto. Eliminar as possibilidades é precipitado e imaturo.
_ É, isso não muda nada para nós. Estamos distantes e dificilmente ficaremos perto novamente. No entanto, você é uma constante em mim.
_ Eu sou uma variável. E, convenhamos: faz parte de uma vida satisfatória esse tipo de desejo. Também acordo pensando em pessoas, muitas vezes. Não se culpe, nem pense nisso como uma traição. São relações diferentes e admiro a sua sinceridade.
_ Sinto sua falta, mesmo sem saber como esse sentimento poderia existir. Vivemos na mesma cidade por pouco tempo e você fez questão de não ultrapassar o diálogo.
_ Ah, não diga que isso não é motivo pra saudade. Eu e você sabemos que a intensidade das relações não é medida pelo tempo. Nem, talvez, pelo que foi feito. Mas, muitas vezes, pelas linhas e entrelinhas; pelo que dissemos ou deixamos de dizer. E nós falamos sobre coisas muito sensíveis.
_ E eu, agora, sou pura sensibilidade e sinto uma vontadezinha de chorar...
_ Não, peloamor. Não quero ver você chorar. De qualquer maneira, acho que fiz parte de um momento chave na sua vida. Você descobriu, enquanto nos conhecíamos, coisas que refletem o que você vive hoje. É claro que isso nos marca.
_ E eu, tive a sorte de fazer parte de algum momento chave?
_ Sem dúvida. Minha vida tem várias portas.
_ E qual foi a porta que abri?
_ Bom, com você me vi, pela primeira vez, frente à alguém que sabia o que sentia, ainda que fosse inédito, e dominava muito bem isso. Era uma mulher que sabia lidar com a paixão que sentia. Que não tinha medo de estampar esse desejo, ainda que eu não estivesse receptiva, no momento. Essa atitude me constrange até hoje.
_ "Gosto de pessoas corajosas, que não têm medo da paixão". Foi mais ou menos isso o que você me disse quando contei que estava apaixonada por você.
_ Foi. E você foi corajosa.
_ E agora me sinto uma covarde, falando sobre isso com você às vésperas do meu casamento. A verdade é que sinto a sua falta. E sinto falta dos nossos diálogos. Gostaria de estar mais próxima.
_ Também gostaria que estivesse mais próxima para compartilharmos vontades e angústias. Aliás, uma corrente filosófica das que mais simpatizo diz que o Homem só atinge a plenitude do seu ser na angústia. O que pode ser um tanto trágico, mas, pra mim, é justamente na angústia, na escolha e nos limites que nos sentimos mais vivos.
_ Acho muito gostoso te ouvir falar. É uma pena que você tenha sido tão breve na minha vida, morena.
_ Não sinta pena. É a brevidade do gozo que multiplica o prazer.

Um comentário:

Bárbara disse...

escreve um livro.
tchau.