sábado, 14 de novembro de 2009

Texto para amar-elo

Tem olhos de mar calmo
a menina do cabelo amarelo
mas será tão calmo amarela?

tem sorriso claro, não amarelo
a menina do mar calmo
que nada de calma tem
e nada de alma, além

É azul, alma da menina do cabelo amarelo
porque azuis são suas janelas.

fecha a porta e
escapa ao norte,
porque o sul cercou-se
de sentinelas

foge com seu
mar azul, menina
não deixe seu amar sob qualquer guarda que diz amar-elo
a menina - ah, amarela!
você é a cura e a mazela.

O teu azul traça o caminho do horizonte
tal qual o mar
tal qual o céu
não tem final nem fonte.

O que a menina do cabelo amarelo vê
é o infinito em diamante.

deixe que se aventurem no seu mar salgado
sem elo

mas, se te atingirem o horizonte,
menina do cabelo amarelo -
quão cansado estaria esse amante! -

e uma força qualquer
te fizer corresponder a esse amarelo
ofereça um banquete,
esquente teu coração
deixe encharcar teus olhos de água doce
e dê de beber tua emoção.


T.

domingo, 16 de agosto de 2009

Pra quem sabe tudo

Hoje é o que temos. Amanhã é obscuro.
Talvez todos tenhamos a cegueira branca do Saramago, se falamos de futuro.
Um mar de leite.
Falamos tão claramente, temos todas as certezas, toda a rotina pré-determinada.
Mas o que há pode haver de concreto na fluidez de um mar?
A maré guiada pela lua e, como tal, instável, é concreta.
O seu barco de encontro ao meu nado, é concreto.
Vamos em direção a Ilha dos Amores, buscar o tesouro enterrado por uma criança doce.

Ao menos as fantasias no mar de leite são concretas.


Tainá, que ainda quer terminar isso decentemente, mas precisava escrever algo hoje, por conta do mar de leite.

Abaixo, trechos do filme "O amor além da vida". Dito por Robin Willians é de arrepiar.
Os céticos vão achar bobagem, e eu vou entender!
Mas, enxerguei nesse filme metáforas que se confundem com minha vida. E com outras também, talvez.
Enfim, que se fodam os céticos.

Pra quem entende:

"Eu sinto muito, querida.
Mas tem coisas que preciso lhe dizer e eu tenho pouco tempo.
Desculpe por todas as coisas que eu nunca lhe darei.
Nunca mais poderei lhe comprar um sanduíche de carne com molho extra.
Sempre o de tamanho maior.
Não irei mais fazê-la sorrir.
Eu queria que envelhecêssemos juntos. Dois velhinhos rindo juntos enquanto nossos corpos decaíam.
Juntos, no fim, perto do lago no seu quadro. Era nosso paraíso, lembra?
Há muitas coisas a se perder.
Livros, sonecas, beijos... e brigas.
Nós tivemos algumas fantásticas.
Eu agradeço até por elas.
Agradeço por toda a sua bondade.
Agradeço por nossos filhos. Pela primeira vez que os vi.
Agradeço por ser alguém com quem sempre tive orgulho.
Por sua coragem e por sua doçura.
Pela sua aparência, por querer sempre tocar você.
Você era toda a minha vida.
Peço desculpas por todas as vezes que lhe decepcionei.
Inclusive esta.

...

Aonde vamos, querida?
Em um minuto não saberei mais quem você é, assim como não sabe quem sou.
Mas estaremos juntos. Que é como deve ser.

...

Por ser tão maravilhosa que eu escolhi o inferno ao invés do céu só pra poder ficar com você.

...

ÀS vezes, quando se perde, se ganha."

;)

sábado, 25 de julho de 2009

Modernidades

quero que a serpente que norteias morda fundo
quero que o soro que anseias pingue longo
e, como vagabundo, deixe que meu corpo caia.

se choras, quero que o motivo do seu pranto seja a saia
que levanto descarada,
aos únicos olhares que vaiam o teu canto.

quero que me castige, por cobiçar estúpidos
e tão logo me possua
e igualmente me cobice
e perceba assim que a estupidez
está mais perto que a velhice.

ainda tenho pulmões jovens e boas pernas
que de nada me valem, se sufoco e tremo.
enquanto rega e afaga minhas costas,
navego e me afogo no seu corpo-remo.

somos mútua ceia, não adoce demais o prato
tampouco faz do sexo farto, um torto agrado
há que entender do tântrico e também do sado.
mas, se no ato me arrancar o pulso, quero que
tua teia teça nova veia.

Porque eu sou jovem, estúpida e ainda quero envelhecer ao seu lado.


Tainá

terça-feira, 7 de julho de 2009

Tela

Contemplo hoje o quadro de um desconhecido. A emergente colecionadora se emociona ao vender fotografias antigas em troca da art nouveau. Ela, aflita diante de um quadro sem autor, forja assinatura de renome; assina Álvaro de Campos na figura campestre. Pessoa, mestre fingidor, vibra.

Nunca vi heterônimo pintor, nem poeta que preste.

Contemplo então o corpo de uma desconhecida, a posar. Vejo agora a art nouveau fotografada. Ele te foca e faz da luz cores de deserto. Eu vejo.
Caminho firme e lanço a bússola do desencontro: nem sul, nem norte - à nordeste.
Atravesso a frente da lente. Te ponho nas costas, carrego teu corpo comigo.
Impeço a concretização de tamanho perigo; ninguém suportaria a eternidade do seu olhar.

Só os amantes.

Seu corpo foi feito pra um poeta assinar.


T. L.

sábado, 13 de junho de 2009

Analua


Por vezes, capturo comentários sobre minha embriaguez.
Falam sobre como vejo a vida de modo alheio, como de um palco com cortinas vermelhas e boa trilha sonora. Falam do modo como ironizo a ignorância e simpatizo com as minorias.
Dizem que vivo embriagada de arrogância e com os olhos vermelhos.
Que há demais?
Meus olhos vermelhos são frutos de noites de lua cheia, onde a luz me penetra e dói - mas eu gosto.

Tenho fotofobia e fodo com a lua a noite inteira, de olhos abertos.


T.L.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ritual


Ontem, comemoramos 1 ano de Corujão da Poesia e Música de Niterói.
Li um texto que fiz, de nome "Ritual", pensando nas tantas corujas que encontro por lá.
Hoje, estendo a dedicatória aos meus amigos corujas, filhos da noite, admiradores da beleza e da cultura; sábios.


Ritual

Botem a roupa, tirem as máscaras!
Lavem a louça: queremos mãos ásperas.
Abram as asas, deixem o ninho
Em casa de coruja não entra passarinho.

Honrem o título, sábios que são!
Tragam o corpo, caneta e violão.
Que sãos e loucos encham os copos!
Não há patrulha no portão.
Que lâmpadas e gênios encham o saco!
Coruja não gosta de iluminação.

Sejam! Sem medo do açoite.
Bom selvagem é pra burguesia.
Coruja é bicho da noite,
Mas morde de noite ou de dia.

Reúnam-se, façam história!
Questionem o sim e o não.
Lá fora somos a escória,
Cravejada de ostentação.


Tainá L. - 01/06/09, aniversário de uma flor.

domingo, 31 de maio de 2009

Metalinguagem




Meu primeiro lápis foi comido com patê.
Meus rabiscos eram em vão, do tipo que um niilista contemplaria.
Foi quando Ela me disse: faça das palavras seu glacê.
Então foi quase psicografia.
Misto de razão e coração,
Que só entende quem conhece o tesão da poesia.
E tal qual camaleão, sou da arte das mil faces;
Sou quem quero, quem não quero e quem me quer.
Abuso dos sujeitos; mudo de nome.
Sou conectivo do verbo mulher.

Mas se eu morro um pouco andando nas ruas,
Se a sujeira seca, seca minha inspiração,
Se eu chego em casa sem gula, sem luxúria e sem razão.
Ela vem debaixo do cobertor.
Vem sob a negra fumaça
E diz baixinho: morrer sem pecado é morrer na desgraça.
Então recolho as palavras perdidas e volto sem culpa pra minha raiz.
Imigrante de mim, abraço meu lar
Depois morro de novo; na frente da mira eu peço bis.
Tudo mentira.
Mas inspiração alguma resiste a uma atriz.

Tainá L.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Parto

Escrever é excitante, mas o Conto de foda não tem a pretensão de ser tão erótico quanto uma foda bem narrada. Auto-afirmação é o princípio da decepção.

Exatamente por isso nunca gostei de textos que se autodenominam “humor”; já são lidos com a expectativa do riso e fica-se à espera da piada idealizada, que nunca chega. Aí, então, o texto que teria até algum potencial político ou literário, vira uma grande merda.
Portanto a idéia, a princípio, é nenhuma. Ou melhor, a idéia é não ter nada pré concebido e escrever. Escrever sobre a foda nossa de cada dia – seja ela qual for.

Aproveitemos ao máximo os múltiplos significados de “foda”, que pode ser expressada em momentos de prazer, indignação, raiva, admiração e tédio. Além dos clássicos momentos onde ”tá foda” é a única solução.

Apresentações são sempre torturantes e artificiais, mas fica aí a idéia vaga sobre a pouca idéia que se tem:

Contos de fodas não deve ser composto só de contos, nem só de fodas, muito menos só de contos fodas. Na verdade, essa é a válvula de escape de alguém que tem a alma transbordante de alma. Alma feita de esponja, que absorve o que quer e o que não quer, e que acaba por não caber mais em si. E ela não quer caber. Porque o que é perfeitamente cabível não nos convence mais.

Tainá.