quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Budweiser no Brasil



Um ótimo motivo pra gente tomar uma cerveja.

domingo, 25 de setembro de 2011

Bukowski na rede de saquarema

CONFISSÃO
(Bukowski)

esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama
sinto muita pena de
minha mulher
ela vai ver este
corpo
rijo e
branco
vai sacudi-lo talvez
sacudi-lo de novo:
"Hank!"
e Hank não vai responder
não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.
no entanto
eu quero que ela
saiba
que dormir todas as noites
a seu lado
e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas
e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora ser ditas:
eu te amo

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

EM OFF

Hoje fiquei impressionada com a intensidade do relato de várias professoras primárias sobre a experiência de incorporação da reflexão crítica (chamada no grupo de filosófica) no cotidiano escolar de crianças.
Falei: me parece que vocês coordenam a experiência, objetivamente, mas também participam de outra experiência subjetiva, ao mesmo tempo. Difícil dissociar.
Uma delas disse, em seguida, frases que só colaboraram para que eu continuasse a pensar que essa relação de provocação, fomentação de conhecimento e crítica, é FÍSICA.
Ao final da sua fala, uma das professoras falou sobre a mudança de comportamento das crianças e carimbou uma imagem em mim: o aluno-problema, desinteressado, meses após participar das tais "experiências", que flertam com a Filosofia, batia na cabeça de maneira grave e dizia: "deixa eu pensar, peraí. Espera, eu preciso pensar."

Enquanto repetia essas frases e imitava a expressão do menino, juro que ela chorou. Agora à noite eu só preciso de uma bebida tão forte quanto essa cena.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Design

meio dia
é hora dos olhos
almoçarem
corpinhos desfilando
mas tem muita roupa
no menú
tem
terno
meia
calça
jeans
rasgado
eu até gosto
mas é muita roupa

bonito é ver
roupa com vontade
própria
você sabe como é
você tem dessas
põe a calça
ela aperta
você tira
já pensando
em emagrecer
mas é mentira
e ninguém desconfia:
a calça aperta
pra você
ceder
certo dia
eu vou ser
seu vestido
baby
já que é muita
roupa
então
põe a cinta
liga também
baby

já que é muita roupa
roupa,
melhor sem

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

P de perdeu, percebe?

Perdeu um amor e comprou o jornal. Pagou com duas moedas e pediu o troco. Procurou o isqueiro no bolso esquerdo da calça, onde sempre estava. Problema: esqueceu com a primeira com quem trepou pra esquecer o amor que partiu. Perdeu duas vezes.
Pediu fogo ao pedestre que fumava na marquise daquela padaria onde comprava pão enquanto o amor dormia. "Pode ficar com ele", o estranho disse, "Parece que você precisa mais do que eu." Precisava. Poder acender o próprio cigarro e poupar pedidos era exatamente o luxo que pedia naquela tarde pálida.
Perdeu um amor, comprou o jornal e sentou numa esquina. Pousou as notícias no banco do boteco: mais miséria em papel de miséria. Porca essa primeira página: pobres, programas de governo, presídios, presidência. Predisposição zero. Pensou nela. Pensou no peso do corpo dela. Pensou em saudade; não era aquilo? Pensou que se saudade não fosse aquilo não era mais nada. Passou a mão pelo rosto, como quem prepara o terreno à espera da chuva, mas ela não veio. Pior, tanto pior. Pobres desses que têm medo de chover.
Perdeu um amor, comprou o jornal, sentou numa esquina, pediu um café. Parou ali. "Pra viagem?", a atendente perguntou. Piscou e fez que sim.

Deixou seu amor de gorjeta e partiu; pra viagem.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Pesos e medidas

você não quer mais
eu não quero mais
mas foi assim:
sem mais nem menos
mas foi assim:
muito

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Nietzsche para estressados

Estava numa livraria ontem e, logo quando decidi pedir ajuda ao atendente, um sujeito grandalhão, mas com semblante apreensivo e, sou até capaz de dizer, meigo, foi mais rápido que eu perguntando afobado:

_ Você tem aí alguma coisa pra estresse?

O vendedor - devia ser novo na loja - pareceu muito desconfortável com aquela pergunta, que mais parecia uma confissão:

_ Olha, a gente tem esse aqui ó: "Nietzsche para estressados".

A imagem do Nietzsche, filósofo ácido, num contexto terapêutico arrancou de mim - que acompanhava o diálogo, à espera do vendedor - uma sonora gargalhada.
O grandalhão não pareceu convencido e foi investigar a sugestão, com ar desconfiado e sempre aquele semblante dolorido. Eu, ocupei o atendente com alguns autores que precisei soletrar e, por algum tempo, esqueci do grandalhão estressado.
Quando fui embora, ele ainda estava lá, com uma mão segurando Nietzche e a outra mergulhada numa prateleira que carregava uma placa amarela gritando: "AUTO-AJUDA".
Passei por ele morrendo de vontade de sussurrar no ouvido, baixinho, de modo que o sujeito não soubesse se ouviu de mim ou da própria consciência:

_ Auto-ajuda é masturbação, babe.

Cá entre nós

Invejo a sua flexibilidade. Eu juro que queria transcrever nosso diálogo de ontem, porque eu achei sua fala de uma liberdade invejável e esse é um dos motivos que me faz te ligar, volta e meia. Gosto também porque você fala baixo e sabe ouvir e sabe falar também. Gosto da ideia de sair com você num dia frio e aquela blusa de gola alta preta, que vai ficar um charme. Mas é que, você sabe, P., alguns caminhos são delicados, têm arame farpado, muro com choque e aquele negócio todo que faz da travessia algo difícil.
... "Ai ai essas mulheres indomináveis que me deixam sempre querendo mais", você escreveu. Depois falou de desejo e eu pensei: se todos os meus desejos fossem satisfeitos, eu pulava.

(Pena que não vale transcrever aquele diálogo. Mas juro que vou guardar e contar qualquer dia, quem sabe, pro primeiro missionário da Assembléia de Deus que me parar na rua).