domingo, 12 de dezembro de 2010

do it

quando há mágoa até a boca: cala.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A mão que te enlaça o pescoço

Hoje conheci a mão que te enlaça o pescoço.

Era noite sem lua pra mim e também pra você, já que ao menos o céu que me cobre é o mesmo que te deita.

Estava eu, na cama, e ela, na tela. Seu pescoço aparecia, em par. Acima dele, um imã chamado Sua Boca.
Passei os olhos pelos lábios até alcançar suas traves: naquele divisor de águas minha língua desaguou, por anos.

Hoje, não mais. Há um sorriso entre nós. A mão que te enlaça o pescoço é a mesma que estrangula nossas possibilidades, e você sorri.

Diga à Sua Boca que tudo o que me dói cabe nessa felicidade.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ansiedade

João, meu queridíssimo, diagnosticou meu mal em uma de nossas conversas literárias. Dizia a ele que há séculos estou para terminar um conto e não consigo avançar porque, durante a introdução, só penso no clímax! E, de tanto pensar no clímax, termino por achar a ideia estúpida. Oh, céus, oh vida. Por que não escuto a Clarice, que dizia nem sequer reler seus textos? Também sinto dificuldade de terminar o que começo e me concentrar numa coisa só.
Mas, uma consequência positiva da ansiedade é que, quando mal se termina de pensar no problema, já começa a busca incessante por soluções.

Assim, penso consideravelmente em voltar para a yoga: aguentar a dor do músculo até o trinta, enquanto o professor, com voz de veludo, ainda separa as sílabas do "dois", é Lexotan.

Ansiedade é o mal do século", disse minha mãe. Por isso estão todos ricos, esses sádicos!

Brigadeiro de panela e sem colher

_ E aí, não vai dizer nada?
_ Então, adorei o almoço. Adorei o brigadeiro que você fez. Adorei os morangos "do sul" que você comprou.
_ Ok, diz logo: o que gostou mesmo foi me ver lambendo os dedos.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

12/06/2007

Li certa vez um escritor conhecido, talvez Mario Quintana, falar sobre o quanto repudiava textos datados. Segundo ele, se bem me lembro, era como imprimir um rótulo.
Na época, me senti particularmente afetada, porque sempre gostei de marcar as datas dos meus textos. Na releitura, era como "sentir o cheiro do dia". Ou seja, um estado de espírito específico, que provavelmente ficaria esquecido, é eternizado naquelas linhas.
Digo isso porque a data dessa carta é emblemática: 12/06/2007. Vulgo: dia dos namorados. Meus amigos mais próximos certamente estão achando o post pouquíssimo convencional, a começar pelo papo de datas vindo de mim, totalmente desmemoriada.
Além disso, trata-se de um texto ingênuo, de uma adolescente de 15 anos. (embora muito significante).
Mas, tudo isso é, de fato, inédito: minha primeira paixão inspirou minha primeira carta de amor que foi minha primeira publicação.

Lembro do quanto me senti confusa quando a professora de português passou a proposta. "Pessoal demais!" "Será que invento uma personagem?" Sempre tive horror a expor meus sentimentos de modo tão óbvio e simples, como sugere uma típica carta de amor. (Sobretudo tendo como endereço o Pedro II)
A saída? Foi a coisa mais piegas e clichê que já fiz: deixei meu coração falar por mim. Sem marca-passo, bombeou franqueza.

Niterói, 12 de junho de 2007

Peço licença para deixar meu coração falar, uma vez que a dona da mão esquerda que lhe escreve é fraca, fria e não ama ninguém. Hum, é fato também que não sabe mentir, e, por isso, passa a palavra àquele que anda a pulsar descompassadamente por você e nem mesmo ousa negar. Bem sabes que coração não mente.
Ele diz que quando você se aproxima, esquece completamente o ritmo normal a que obedece, de mais ou menos setenta batidas por minuto. Disse que quando você toca o meu rosto e sorri, multiplica esse número por um infinito de estímulos, que, contrariando a razão, fazem meu corpo se aproximar. Diz que quando você toca os meus lábios, emite ondas de calor para cada parte do corpo e, por isso, é responsável por torná-lo moradia aconchegante para as suas mãos.
Mas, meu coração se queixa por deixá-lo apertado a cada despedida e confundir-lhe as funções, fazendo-o errar as veias e bombear quantidade exagerada de sangue quente, deixando marcas avermelhadas ao longo do meu corpo, além do rosto corado.
Disse a mim, também, que anda a ter brigas constantes com a Razão. O que me deixa triste, afinal, sempre fomos amigas - mas, cá pra nós, acho que ela ficou com ciúme, porque, por culpa sua, o coração tem sido bem mais requisitado.
Ele manda dizer, por fim, que anda a ser vítima de pequenas explosões, que, segundo o parecer, são causadas ao menor sinal de sua presença. Além das grandes, que o atingem no mesmo momento em que nossas almas se encontram, imitando a coreografias dos corpos. E então, reinventamos os minutos que passam no relógio e perdemos todo o controle sobre a respiração.

Você fez meu coração falar e sentir.

Beijos sem fim...

domingo, 12 de setembro de 2010

A little bit Vinicius

ai, tem dó
que viveu junto não pode nunca viver só.

ai, tem dó
mesmo porque você não vai ter coisa melhor...

não me venha achar ruim
porque você me conheceu assim
me diga agora
ora, ora,
não foi assim que você gamou.
você sabe muito bem
que mesmo louco assim
gamei também
me diga agora.
ora, ora,
será que alguém não foi quem mudou?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Teoria da evolução

a maioria dos adolescentes quer ter cabelo liso, pra parecer mais com os outros adolescentes.
a maioria dos jovens quer ter cabelo curto, pra parecer mais velho.
a maioria dos adultos quer ter cabelo longo, pra parecer mais jovem.
...
a maioria dos velhos quer ter cabelo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Bate

(Não pretendo dar uma de Fernando Pessoa e começar a escrever acerca do quanto tenho sido covarde. Sou do tipo que não gosta de divulgar fraquezas; não de forma descritiva, assim, tão clara, em 1ª pessoa. Mas, se pretendo voltar ao blog e, mais do que isso, voltar a escrever de forma necessária, é preciso romper este lacre. Ainda que seja posto como uma nota de página, há que ser dito e terminado. Não há assunto proibido.
Devo dizer, portanto, que tenho sofrido de algo que pode ser expresso por "falta de foco". Recuso-me a falar em "falta de inspiração". Aliás, tem sido até mesmo um período produtivo sob esse ponto de vista: vizinhos curiosos, rompimentos, alguns porres, boas festas...
Mas, fato é que não consigo terminar um texto que corresponda a uma de minhas inspirações desde meu último aniversário - movida por uma irritação digna de um inferno astral.
Penso que talvez minha capacidade crítica tenha minado minha confiança e vejo a Filosofia caber perfeitamente nos dois corpos que Sócrates atribui ao prazer e a dor, com uma só cabeça. Aliás, a única forma que me parece interessante falar sobre o que dói é, de fato, se o associo a algum prazer.
Por isso, e só por isso, ofereço minha cara literária ao seu tapa; bate. E, a cada estalo, mais me inspira).

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

18

É o tempo que te tem, menina.

o tempo me diz que rir da juventude é atestado de estupidez.

as décadas ridicularizam as piadas etárias, enquanto, você, tão moderno, enche a cara e abraça a constituição.
veste a carapuça da caretice. chama a polícia, porque tem menor bebendo uísque, enquanto você bebe alcatrão.

Digo, pois, que o maior problema de quem confunde maturidade e maioridade é o fim do horário de verão:

eis que, o desagradável da vez, percebe que uma hora não lhe faz a menor diferença.

é, nada mais, do que um tempo a mais pra pensar nos verões que passaram e nas novidades que parecem tão repetitivas hoje.

diante disso, ver você, que valoriza o florescer, ter uma hora a mais para ser interessante, é foda.

.............................

No tempo que passou, a maturidade foi tecida com cuidado, como vejo você tecer a sua, menina.

certas armadilhas nos fazem amadurecer rápido, você muito bem sabe.

o tempo fez de nós velhos jovens.

Velhos jovens que nauseiam diante da limitação imposta por valores morais antiquados, reforçados aos quatro cantos por pessoas pouco interessantes.

enfio nelas, agora, o gosto da maioridade.

e você, menina, goza.

olha como giram os ponteiros, na cadência que você gosta.

no atraso do relógio, os que não gozaram na hora passada são os mesmos que fazem piada da juventude.

então goza o tempo.

porque é o tempo que te tem, mulher.