sábado, 25 de julho de 2009

Modernidades

quero que a serpente que norteias morda fundo
quero que o soro que anseias pingue longo
e, como vagabundo, deixe que meu corpo caia.

se choras, quero que o motivo do seu pranto seja a saia
que levanto descarada,
aos únicos olhares que vaiam o teu canto.

quero que me castige, por cobiçar estúpidos
e tão logo me possua
e igualmente me cobice
e perceba assim que a estupidez
está mais perto que a velhice.

ainda tenho pulmões jovens e boas pernas
que de nada me valem, se sufoco e tremo.
enquanto rega e afaga minhas costas,
navego e me afogo no seu corpo-remo.

somos mútua ceia, não adoce demais o prato
tampouco faz do sexo farto, um torto agrado
há que entender do tântrico e também do sado.
mas, se no ato me arrancar o pulso, quero que
tua teia teça nova veia.

Porque eu sou jovem, estúpida e ainda quero envelhecer ao seu lado.


Tainá

terça-feira, 7 de julho de 2009

Tela

Contemplo hoje o quadro de um desconhecido. A emergente colecionadora se emociona ao vender fotografias antigas em troca da art nouveau. Ela, aflita diante de um quadro sem autor, forja assinatura de renome; assina Álvaro de Campos na figura campestre. Pessoa, mestre fingidor, vibra.

Nunca vi heterônimo pintor, nem poeta que preste.

Contemplo então o corpo de uma desconhecida, a posar. Vejo agora a art nouveau fotografada. Ele te foca e faz da luz cores de deserto. Eu vejo.
Caminho firme e lanço a bússola do desencontro: nem sul, nem norte - à nordeste.
Atravesso a frente da lente. Te ponho nas costas, carrego teu corpo comigo.
Impeço a concretização de tamanho perigo; ninguém suportaria a eternidade do seu olhar.

Só os amantes.

Seu corpo foi feito pra um poeta assinar.


T. L.