segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Caetano ontem me cantando

Eclipe oculto (Caetano, ACHO, ainda tive dúvidas sobre ser do Cazuza)

"Nosso amor
Não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
De perto
Fomos quase nada
Tipo de amor
Que não pode dar certo
Na luz da manhã
E desperdiçamos
Os blues do Djavan...

Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração
Tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida...

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Como nunca se mostra
O outro lado da lua
Eu desejo viajar
Do outro lado da sua
Meu coração
Galinha de leão
Não quer mais
Amarrar frustação
O eclipse oculto
Na luz do verão...

Mas bem que nós
Fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama
Nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama....

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar...

Não quero que você
Fique fera comigo
Quero ser seu amor
Quero ser seu amigo
Quero que tudo saia
Como som de Tim Maia
Sem grilos de mim
Sem desespero
Sem tédio, sem fim...

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?


Podia ser "você é linda" (hahaha), massss, sou eclipse oculto, fazer oq rs

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Chapada dos Veadeiros - agosto de 2013

Quando a seca arma a chuva

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Agosto, 30 - 2013

Conheci I. e B. no lugar onde fiquei. I. é um paulista zen, que fugiu pro mato nas férias do trabalho - "Quando você está em São Paulo, você tem que ser paulista, não tem jeito", ele disse. B. é uma garota de Porto Alegre, que curte meditação e yoga, e estuda Direito para "proteger o meio ambiente". Ela trancou a faculdade por um período para viajar pelo Brasil, e foi aí que nos conhecemos.
Acho que rolou um clima forte entre I. e B. Certo dia eles combinaram de acordar cedo e ver o Sol nascer. No mínimo, os dois fumam cigarro de palha, tem tudo a ver.
Ontem à noite rolou um fininho purinho, plantado na cidade. Saímos logo em seguida, maravilhados com a quantidade de estrelas no céu, contando as constelações, bem no meio do tubo da onda, falando besteira e rindo na cidade de terra batida. No dia anterior, havíamos falado sobre ET's. I. esteve em Varginha, contou que os taxistas de lá se orgulham de terem levado gente da NASA para visitar a cidade. As histórias de lá são bem impressionantes.
No fim das contas, estava todo mundo com uma vontade louca de comer doce. Sonhamos com o crepe de chocolate que havia num restaurante próximo, mas, aparentemente, é folga de metade da cidade na quinta-feira, e quase tudo estava fechado. No meio do desespero, encontramos um sujeito que nos disse:
"Vocês querem sobremesa? Vão ao "Dragão Gelado", lá eles tem um monte de coisas diferentes. É só entrar na principal e seguir reto."
I. nos guiou com firmeza, afinal, ele já era praticamente mais um dos 500 habitantes da cidade. Está aqui há quase duas semanas. Mas, qual não foi a minha surpresa quando percebi que I. direciona sua caminhada para, nada mais, nada menos, do que o bar do Valtinho?! Bem, achei que ele sabia o que estava fazendo:
"É aqui o Dragão Gelado?"
Valtinho exitou por um segundo, eu acompanhava a situação um pouco mais afastada:
"Pode sentar, fica à vontade."
O coroa era malandro mesmo! Um filho da puta do bem. Perguntou se era "litrão", me deu um aceno e foi lá pra dentro. I., muito educado, adentrou com Valtinho o balcão de onde a figura trazia os sanduíches e quitutes:
"O senhor tem alguma sobremesa?"
Valtinho estranhou: "Errr... sobremesa? Como assim sobremesa?"
"É, sobremesa... doce..."
E então ficou subitamente alegre: "Ahhhh, doce, tem sim, tem vários doces pra vocês escolherem aí!"
I. ficou animado, e eu já gargalhava do lado de fora. Era óbvio, e eu sabia desde o início, que o tal Dragão Gelado só podia ficar para o outro lado.
Entre risadas com B., ainda ouvi ao longe a voz do Valtinho tentar convencer: "Ué, tem rapadura, melado, paçoca..."

Demorei um tempo para convencê-lo de que Valtinho era preto velho, malandro. Ele estava realmente convencido de que o nome daquele boteco, copo americano, cerveja de garrafa, era "Dragão Gelado".
"Essa porra é nome de lanchonete de cursinho pré-vestibular", falei para I., enquanto ele ainda achava que o sujeito que nos falou sobre as tais sobremesas pensava em rapadura.
Fala sério. "Dragão Gelado". Quando é que isso vai ser nome de boteco?
Ah, esses paulistas.

domingo, 15 de setembro de 2013

Xamã

falar a língua
da libido
extrair dos seios
a primeira seiva
da manhã

anoitecer
no meio da sua
selva
traduzir teu breu
por entre dedos
de xamã

provar a polpa
do seu suco
suar as gotas
do teu beijo
marcar suas linhas
com meus traços
de afegã

afogar
nossas tardes
de domingo
preparar
a liturgia
derreter na boca
a disciplina
de uma cristã

acordar feliz
em plena segunda-feira
achar bonita
a sua loucura

meu bem,
foi a maça
que curou eva
verás amanhã:
é a loucura
a cura do divã

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Eu gosto do palheiro (versão final)

não uso vírgula
para separar interesses
eu como de tudo
eu gosto é do palheiro
e não vou procurar agulha
nenhuma

eu não sou garimpeiro
só uso óculos escuros
mal sei peneirar
desejos
e não uso vírgula
para separar interesses
eu gosto de palavras
intermitentes
e você odeia
esse meu jeito

eu te quero assim
mas não vou procurar agulha
nenhuma
eu não sou garimpeiro
tampouco muito gramatical
talvez eu seja
mesmo
pedra bruta
e você
poderia ser
um parasita mais sensual

meu amor,

não vai ser
nada bom
partir
eu não uso vírgula
para separar interesses
em cada ponto
uma saudade
saudade é coisa que mergulha
na vontade
de ser inteiro

descobri que sou metade
eis que estou
garimpeiro
nessa vida de agulha

sábado, 7 de setembro de 2013

Sobre o dia que disse eu te amo

Você pode duvidar quando eu digo que te amo. Pode dizer que eu não amo, e tudo o que você diz, pode dizer que eu não sei o que é o amor, que não é isso que eu sinto, eu falo isso pra todas.
Os poemas sentem o tamanho desse soco. Quem sabe ao certo o que é o amor? Minha cara, talvez, só se saiba claramente determinadas coisas em situações-limite. Tua arma na minha boca, a morte na minha cara, eu saberia exatamente a quem amei. No entanto, enquanto as horas me passam, e o coração bate em compasso, deixe-me explicar, todas as vezes que disse que te amo, falei como quem suspira. Você sabe o que é um suspiro? Um suspiro se diferencia da respiração porque é possível gostar durante.
Falei que te amo exatamente como quem suspira. Falei que te amo enquanto amava, não havia o que se explicar.
Veja bem: eu suspiro enquanto suspiro, e sobre minha respiração o que eu digo é que já respirei, passou por entre a frase. Não te amo como quem respira, o próprio amar se perderia nas facilidades desse automatismo. Já basta de futuro. Te amo enquanto te amo.
O amor também é o modo como eu me abro, assim como o suspiro se faz justamente no modo como se faz. Você entende? Veja se não é assim que te aparece esse fenômeno: é um estalo, uma distração breve, havia uma respiração comum e, de súbido, encontra-se a si mesmo suspirando, e, veja lá, você já está no meio do caminho e encaminha-se ainda a uma manifestação mais espontânea, e já não é uma respiração comum, você sabe disso, algo diferente acontece, e se encaminha para o fim, e esse fim não é trágico, é só gozo. O gozo do suspiro ganha até um gemido, uma espécie de "ah..." contínuo, até que se dá conta, e surpreendentemente; eis que suspirei.
Falei que te amo num suspiro, não como quem já o tinha de pronto, não se faz planos para respirar depois, expectivas, definições, pelo seu deus!, quanto desamor. Falei que te amo, nunca por ter absoluta certeza do que isso significava para mim, para nós, mas porque isso não importava. Disse que te amo porque me percebi subitamente no terreno do amor; eu me percebi simplesmente ultrapassando a fronteira da respiração.
Eu estava suspirando, e isso era o amor pra mim.
É o que importa: não a palavra, mas suas asas.
Ora, ainda assim, duvide: você é atéia para os melhores deuses.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Agosto, 29 - 2013

Eu não sou fumante, mas gosto de fumar. Acredito mesmo que só gosto de fumar porque não sou fumante, mas isso é outra história.
Bem, a prova de que se trata mais de prazer do que de necessidade fisiológica - embora as duas estejam diabolicamente interligadas - é que no armazém da cidade só tinha Derby, e eu fiquei sem cigarros até o Valtinho, dono do bar da esquina, abrir o boteco.
Ia pedir só o maço, mas ele é pura lábia, "e o que mais, um litrão?". Acabei levando o tal "litrão" de Antártica, um litro de cerveja para a moça. Ele era um senhor robusto, muito simpático: "Você tá sozinha?", ele me perguntou, assim que peguei a garrafa.
"Sim."
"Então eu vou sentar com você!"
O bar estava vazio, mas era na beira da rua e volta e meia alguém passava para cumprimentá-lo. Ainda assim, conversamos bastante. Valtinho me disse que nasceu na Bahia, e sempre trabalhou com pedras.
"Já garimpei muito, já vendi demais, já fui roubado."
Ao que parece, ele vendeu esmeraldas para um sujeito que estava acostumado a comprar com ele. O cara deu "um cheque de 8 milhões e sumiu no mundo". O advogado disse para Valtinho que, para reaver o dinheiro, teria que matar o filho da puta. Que orgulho da profissão
Valtinho não mata nem mosca.
Perguntei como ele chegou em Goiás. A história é curiosa:
"Eu tava num bar em São Paulo, tinha acabado de vender umas pedras pruns indianos. Aí a imprensa fofoqueira - ele disse mesmo assim, estou transcrevendo, João - mostrou que tiravam pedras aos montes em Goiás. Então eu levantei e disse: 'Tô indo pra lá agora!' Passei na Bahia, falei pra minha mãe ajudar a arrumar as coisas, que eu tava partindo. Ela chorou muito, mas eu fui."
Em Goiás, Valtinho se apaixonou e ajudou a fazer dois filhos.
Eu e você tomando café lado a lado, entre mil e um cafés da cidade, entre milhares de habitantes.
Em cada escolha, uma vida.


Ele me disse que o segredo do cristal é limpar bem.

Agosto, 28 - 2013

3. Acabei de falar com a atendente do CNPQ. Depois de esperar na fila por 15 min., ela me disse que teve um erro no sistema. Eles enviaram indiscriminadamente emails do tipo. "Pode ter um erro, ou não", ela me disse.

É por isso que eu bebo.

Agosto, 28 - 2013

2. Uma maré de azar de agosto ainda me persegue no Rio de Janeiro. O CNPQ me mandou um email dizendo que meu pagamento foi rejeitado por incompatibilidade dos dados bancários. Puta que pariu. Os filhos da puta também não pagam retroativos.

Agosto, 28 - 2013

1. Acho que já deveria ter dito que essa cidade de São Jorge tem uma energia sensacional. Poucas vezes me senti tão bem sozinha num lugar e, considerando que viajei sob a sombra do fim, ou da dúvida, eu tinha muitos motivos para não me sentir bem, justamente sozinha, em lugar algum.
Ao contrário disso, a cada dia adio minha volta o quanto posso. Aliás, percebi que não sei que dia é hoje, e que, para descobrir, agora, preciso contar a partir do sábado: "24, então domingo 25... hoje é 28". Ah, o sábado 24! Creio mesmo que ele foi um dos responsáveis pela iniciativa desse discurso periódico. Melhor não falar disso agora.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Agosto, 27 - 2013

3. Andei 1h e meia com as crianças e o guia até a cachoeira que se chama "Cariocas". Descobri depois que ela tem esse nome porque duas cariocas ficaram alguns dias perdidas por lá. Outra pessoa me disse que, na verdade, foram 3 cariocas que demoraram pra voltar, até que o povo se desesperou e foi procurar. Quando chegaram, estavam elas deitadas tomando Sol. Anos 80. Gostei mais dessa versão.
No grupo de crianças, havia uma que percebi ter alguma espécie de "distúrbio", "deficiência" - todas as palavras são péssimas - muito sutil - não sei exatamente o que ela tinha - mas perceptível. Depois de alguns bons mergulhos, percebi que ela falava, repetidamente, de conhecido a conhecido, algo como "eu deixei as migalhas caírem no chão".
Ela repetia isso, e eu estava completamente absorta na observação de um conjunto de peixes que, de modo muito interessante, se movimentava. Imersa nessa dança, sinto no calor do meu pescoço: "eu joguei a migalha do bolo no chão". Ora, então ela jogou as migalhas. Estava mais curioso, afinal.
"Eu também jogo tudo fora", era minha vontade de dizer, mas não pretendia embarcar nesse tipo de confissão naquele momento. Ao invés disso, disse: "Eu ouvi, você já falou".
"E aí?", ela me respondeu.
"E aí o quê?"
"E aí que eu joguei as migalhas no chão?"
Ela era mais dócil do que desafiadora, mas resolvi continuar:
"E aí que você pode catar uma por uma, ou deixar no chão, para uma formiga levar."
"Como assim?"
"É uma escolha. Você tem essa escolha."
Talvez eu pensasse nessa hora em quantas migalhas já fiz questão de catar, porque nunca desisto, porque gosto do gosto, porque é difícil.
"E o que você escolheu?", perguntei.
"Eu escolhi deixar no chão".

Agosto, 27 - 2013

2. Paramos no meio do caminho para descansar e uma das meninas da excursão era muito parecida comigo quando era pequena. Tive certeza quando ela perguntou em voz alta, num tom insolente:
"Alguém alguém aguenta 30 quilos andando?"
O guia tagarela perguntou: "Você tem 30 quilos?", e ela respondeu: "Tinha. Agora eu tenho 28 e meio."
Pedi para tirar uma foto dela dizendo: você parece alguém que eu conheço.
Ela sorriu, parou para a foto e só após alguns minutos perguntou: "Quem eu pareço?".

Agosto, 27 - 2013

1. Quando se viaja sozinha, tem sempre alguém querendo te comer.
Na portaria do Parque Nacional da Chapada, um guia me convidou para acompanhar o grupo com o qual ele estava trabalhando. Era uma excursão com cerca de 15 crianças, seus professores e coisa e tal. Topei.
No meio do caminho, ele falava demais - é impressionante como encontro homens que falam demais, minha paciência é zero.
Depois de falar muito sobre seu recente término - tudo isso numa trilha com sol a pino, e eu só conseguia responder "aham", "hum" - ele perguntou se eu tinha namorado.
Respondi "quase", pra dar outro rumo à conversa. Na real, não tenho nada, ninguém nunca tem nada, mas esse papo me deu muita saudade.
Ele ficou mais quieto depois que disse isso, mas ainda pediu meu telefone.
A verdade é que tem sempre alguém querendo te comer.

Agosto, 26 - 2013

3. Estava convencida, desde que saí de Brasília, de que seriam 6 horas até a cidade de Alto Paraíso, e que eu chegaria às 4 da tarde. Se eu quisesse ir para São Jorge, cidade onde fica o Parque Ecológico da Chapada dos Veadeiros, teria mais 40 min, sabe-se lá de que, já que ninguém sabia muito bem informar como eu poderia chegar lá sem carro.
Às duas da tarde, vi metade do ônibus descer, com um monte de bicho grilo, e uma gringa que me fez pensar "chapada" quando olhei. Bom, desci também, como quem não quer nada, fui ao banheiro, já que era um monte de malas pra pegar, e então decidi perguntar ao sujeito que era algo parecido com um co-piloto:
"O ponto final é em Alto Paraíso, certo?"
Ele confirmou, e voltei ao meu lugar. Desconfiada que sou, perguntei ao cara do meu lado e ele disse que o ponto final era nada menos do que em Tocantins.
Desci correndo exatamente na hora que uma van cobrava 10 reais pela corrida para São Jorge. A irmã do motorista é dona de um albergue simpático no qual me instalei, e resolvi todos os meus próximos dias em 10 minutos.
No fundo, se eu acordasse em Tocantins, era bem capaz de ter ficado. É tempo de resiliência.

Arruda

amar
é uma coisa de minutos
três mil voltas no sol

e já não te escuto

[arrudA]

Você só descobre pra que serve uma antena de tv quando vê o pôr-do-sol de cima dela

Vista da Chapada, agosto, 2013

domingo, 1 de setembro de 2013

Agosto, 26 - 2013

2. Estou indo de Brasília para Alto Paraíso, e depois talvez para São Jorge, a cidade onde fica o parque nacional da Chapada dos Veadeiros. Paramos numa cidadezinha para as pessoas almoçarem e irem ao banheiro.
Uma senhora que muito me olhava no ônibus - talvez minha blusa de caveira mexicana, talvez apenas o mistério da estrada, a menina sozinha - saiu do compartimento onde ficam confinados os incontinentes e me disse:
"Esse banheiro é de pobre".
Eu olhava para ela através do espelho, e convidei-a, mesmo sem querer, a uma justificativa.
"Não tem papel", ela disse.



Curioso como parece, a essas senhoras, sinal de nobreza manter a buceta seca.

Agosto, 26 - 2013

1.

Comprei este bloco de notas na rodoviária intermunicipal de Brasília. Eu não sabia que vendiam bloco de notas em rodoviárias, mas "essa foi planejada por Niemayer", é o que diriam. Pra falar a verdade, eu achei até bem mal planejada. Aliás, pouco funcional.
Como é possível que se projete uma rodoviária cuja entrada só acontece após uma rampa, ligeiramente íngrime, mas absolutamente infinita quando se está com peso? Curioso é que rodoviária não é um lugar no qual é raro entrar com peso. E eu não estava com pouca coisa. Mandei Niemayer tomar no cu três vezes.

No fim das contas, funcional ou não, a verdade é que é bonita pra caralho.

Diário de um fescenino

Antes de viajar, fui à biblioteca municipal de Niterói, que adoro, procurando alguns livros com os quais me distrair. Perguntei por Bukowski, mas o que havia dele eu já tinha lido. A atendente, percebendo meu ar desapontado, perguntou se eu conhecia Rubem Fonseca. Só de nome. Segundo ela, se eu estava afim de uma literatura marginal, sem papas na língua para a violência, ele era o cara.
"Eu vou te mostrar a prateleira dele, e aí você pode, quem sabe, escolher pelo título".

E então havia esse livro, "Diário de um fescenino". Eu nunca ouvi falar dessa palavra. A capa dava a deixa:

"Fescenino [do latim fescenninus]: ADJ. E S. M. 1. que ou o que tem caráter obsceno, licencioso; difamador, devasso 2.gênero de versos licenciosos e injuriosos, muito cultivados entre os antigos romanos; ou o que se diz sobre esse gênero; ADJ. 1. relativo à poesia e aos habitantes da antiga Fescênia, Itália."

Ok, escolhi pelo título.

E então havia esse personagem, Rufus, tão eu, e tão fodido junto comigo, na hora exata em que tudo estava fodido pra mim e pra ele, e eu lembrei como a literatura crua consola - se por um lado um diário não passa de uma mera descrição da realidade, por outro lado, foda-se - e achei justo abrir uma aba no blog (ou quem sabe outro blog) em homenagem a esse cotidiano filho da puta. Depois daquele sábado passei a documentar determinados momentos da minha viagem, e tomei gosto pela coisa.