terça-feira, 22 de outubro de 2013

Babaca

Babaca - adj. e s.m.+f. Que é desinteressante ou irrelevante (conversa babaca). Pessoa boba, que se deixa enganar facilmente ou não tem atitude, desembaraço, vigor. Que é muito crédulo, abobado, pouco inteligente ou age de modo subserviente.

Trecho

"É assim mesmo: passar a mão pelo muro castigado
como se a mão passasse por coisa viva,

ou como se a mão, ao passar, passasse
à coisa contaminada a qualidade viva;
é exatamente isto: descer os olhos
pelo tronco da árvore qualquer da esquina

como se descessem por musculatura tensa,
como se, ao descerem, decifrassem

um vocabulário de líquens sem pressa;
não há outras palavras – me abrace, vá embora,

ninguém há de sentir falta e tudo pode ser
este pedaço de concreto na calçada."

Marcelo Diniz

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Para um amor felino

Há um gato que geme embaixo da minha cama. Eu trabalhei, tomei dois drinks, vi um filme chamado Tropicália, e mesmo depois de Caetano, Gil, e dos Mutantes, há um gato que geme embaixo da minha cama, ainda mais do que antes. Cheguei a procurar o felino, agachada pelo chão. Colchão, tapete, nada. Naturalmente, o gato geme mais embaixo do que a minha cama. Talvez no inferno de Dante, ou no inferno de Bergman. Talvez na rua, inferno de tantos. Eu não sei onde, mas o gato geme ainda. Ele suprime o "mi", e então quase late, mas é dolorido, eu mesma não chamaria de latido. Estou preocupada. Nada que não me afetasse me faria ficar de quatro. Procurei e não vi nada, mas há um gato ainda, que geme embaixo de mim. Geme sofrido, com tempo, geme como quem inventa um novo dialeto; eu já não sei mais qual é o barulho que os gatos fazem. Se o encontrasse, faria qualquer coisa por esse animal agora. Sei que ele tem medo, e que mesmo assim, subitamente, esperaria de mim que lhe segurasse a dor. Agora me dou conta, o gato esperaria que lhe desse qualquer segurança, é um perigo, eu nunca fui dessas, mas já estou tão perto desse amor felino. Quem dera que esse gato me ouvisse antes de ir embora. Eu tomaria seu gemido como um convite, beberíamos um pouco, ele me traçaria as garras que marcaram sua vida felina, eu lhe estenderia as mãos porque quero mostrar que não tenho unhas cumpridas, e mostraria as palmas também, talvez, porque um guru me falou certa vez que isso inspira confiança. Ofereceria meu colo, uma caixa de chocolates. Daria a ele de bom grado a minha mão para uma lambida, talvez lambesse também, mas nada disso funcionaria.
Sempre tive o bom costume de ouvir com atenção os gemidos da minha cama. Ofereci mais que mãos, alguns dedos às bocas que amei, que mordi, como caixas inteiras de chocolates. E os suspiros que bebemos, doses embriagadas de motivos para procurarmos de quatro e contentes, por felinos embaixo do colchão.
Nada disso poderia dar certo com um gato arisco, pois se já te mostrei não só as palmas das mãos, mas também dei olhos a elas, se elas te viram do avesso, e se elas gemeram embaixo da tua chama, e mesmo assim(...)
Nada disso daria certo com o gato, pois se já te estendi, não só a mão, mas os pulsos, a pulsão, e continuo sem saber onde é que você tem gemido.
Há um gato que geme em algum lugar, e eu escuto. Penso nele.
Você e esse gato ainda hão de encontrar muitas semelhanças.

domingo, 13 de outubro de 2013

Deixar a vida

"lavar o rosto
com a água do dia
acender o fogo
amassar o pão
inventar
o amor pelas mãos
deixar a vida

nos adivinhar"

[arrudA]


Foto do Canyon 2, Chapada dos Veadeiros, agosto, 2013