domingo, 20 de março de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

Para os intensos

Antes de entrar no Pedro II para começar o tão esperado ensino médio, lembro claramente de ouvir minha mãe dizer: "agora você vai ter aula de Filosofia! Acho que vai gostar."
Depois da primeira aula, a suposição se confirmou. O professor não era lá muito didático, mas o primeiro contato com a matéria foi positivo.
Minha memória, ainda que seja falha em determinadas situações, sobretudo as que me desagradam estética ou politicamente, conservou vivo o primeiro trabalho. Deveríamos parafrasear Sócrates ao completar a lacuna: "uma vida sem ... não merece ser vivida." Eu, lutando contra o impulso de escrever "chocolate", "vinho tinto", ou, quem sabe, "sexo", escrevi algo não menos verdadeiro, sem o qual nenhuma das opções anteriores valeria: "paixão".
Carreguei a frase comigo durante todo o ensino médio. Fiz valer minha própria premissa e me apaixonei pela Filosofia.
Mais tarde, quando decidi cursar essa faculdade, com muito mais provas de que uma vida sem paixão, definitivamente, não merece ser vivida, esbarrei em questões que, curiosamente, me remeteram ao primeiro trabalho.
Com o estudo da Filosofia Política, já estava claro, para mim, que estudar a vida me interessava especialmente. Conheci, com paixão, as diversas concepções políticas que povoaram a Grécia Antiga e, mais tarde, me senti particularmente atingida pelo sufocante Leviatã de Hobbes. Penso que há beleza nesse tipo de matéria, porque trata de teorias que afetam pessoas e a forma como as pessoas se afetam (me) é inspiradora.
Algum tempo depois, descobri que, para alguém que se interessa pelo estudo da vida, pensar na morte é inevitável.
Nesse sentido, o existencialismo derruba vários tabus que cercam o fim. Hoje, escutando Lobão, ouvi: "mais vale viver 10 anos à mil do que mil anos à 10". Há quem discorde e Aristóteles provavelmente diria: "Sem extremos, caro compositor. Vamos viver 100 anos à 500, que tal?" O que mais interessa a partir da música é que a morte não deve ser negada.
Como diz o trecho de um livro bastante didático:

"Heidegger chegou ao ponto de afirmar que a existência humana é ser-indo-para-a-morte. Para viver autenticamente, temos de encarar de frente o fato de nossa mortalidade e assumir a responsabilidade de viver vidas significativas à sombra da morte. Não devemos tentar escapar da ansiedade pessoal e da responsabilidade pessoal negando esse fato.
...
Para Heidegger, viver à sombra da morte não é apenas mais corajoso; é o único jeito autêntico de viver, porque nossa hora pode chegar à qualquer minuto."


Enquanto ela não chega, Sartre, com a máxima "a existência precede a essência", nos dá o diploma de engenheiros da nossa própria vida. "Condenado a ser livre", é o que você está.
E, para os que adoram auto-definições, diz o livro, a partir de Sartre: "Somos seres indeterminados, sempre livres para nos reinventar".

Enfim, o existencialismo é uma corrente filosófica intensa, deliciosa, que grita a cada leitor uma sugestão; em mim, quase sempre ecoa meu primeiro trabalho de Filosofia e qualquer coisa repete, dentro: "uma vida sem paixão não merece ser vivida".

quinta-feira, 10 de março de 2011

Carnaval é:

Sair pra tomar um vinho e acabar num boteco na praça.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Nudez literária

_ Você deve ter um blog.
_ Não vim com esse dom da escrita não! Uma pena. Acho lindo. Queria saber.
_ Eu não! Essa galera que escreve não vale nada...
_ Tá falando sério?
_ (cínica, ela diz que sim)
_ haha, você tá brincando...
_ É que eu escrevo, babe. Não queria que soasse prepotente.
_ Ah, tá vendo? Te elogiei sem saber!
_ Pois então: é exatamente o tipo de elogio que eu dispenso.
_ Sendo assim, me passa o seu blog que eu avalio se vale o elogio.
_ (ela riu, com gosto) Meu blog é uma casa de família. Não abro a porta pros primeiros olhos castanhos da noite.
_ E se eles forem os últimos?
_ (gargalhada) A verdade, meu bem, é que você não tem um blog. Nada que te desnude.
Se, por acaso, tivesse, eu entenderia como uma nudez acompanhada. Mas ficar no voyerismo é mole... e não vai rolar.
_ Ah, não seja tão dura. Não curto ficar só olhando, mas, no momento, a curiosidade que você me desperta é o que tenho para oferecer.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sweet sixteen

sei que esse baque abarca um brejo fundo
onde você se tranca agora.
sei que se vinga do resto do mundo
calando a dor que te devora.

sei que isso te faz mais forte
e que há qualquer coisa de lindo na dor calada
mas deixe-me ver esse corte
e costurar sua ferida
com a experiência de quem já foi cortada.

pra suturar esse abismo
comece com umas doses de álcool,
para desinfetar.
tire essa roupa,
solte os cabelos,
deixe a meia luz esquentar o lugar.
faça um bom prato:
o cheiro de boa comida
é a vida em pleno ar.

nos primeiros dias
também é indicado
devorar um CD, de entrada.
a guitarra do BB King,
filet mignon do blues,
é macia de ser mastigada.

...

dias depois,
quando terminou a última faixa,
arrotando sólos de guitarra,
sentiu-se munida de uma dose a mais de vida.
ficou à sós com o silêncio
e contemplou a cicatriz do que antes era ferida.
num sussurro firme e abafado,
ela afirmou:
"essas são linhas do nosso passado."

Maria Gadu

"Vamos prum lounge, beber um vinho safra ruim e conversar sobre a tv?"

Porra, quer coisa mais broxante?

terça-feira, 1 de março de 2011

Paradoxos lógicos e semânticos

"A palavra heterológica é autológica ou heterológica?"