quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Agosto, 30 - 2013

Conheci I. e B. no lugar onde fiquei. I. é um paulista zen, que fugiu pro mato nas férias do trabalho - "Quando você está em São Paulo, você tem que ser paulista, não tem jeito", ele disse. B. é uma garota de Porto Alegre, que curte meditação e yoga, e estuda Direito para "proteger o meio ambiente". Ela trancou a faculdade por um período para viajar pelo Brasil, e foi aí que nos conhecemos.
Acho que rolou um clima forte entre I. e B. Certo dia eles combinaram de acordar cedo e ver o Sol nascer. No mínimo, os dois fumam cigarro de palha, tem tudo a ver.
Ontem à noite rolou um fininho purinho, plantado na cidade. Saímos logo em seguida, maravilhados com a quantidade de estrelas no céu, contando as constelações, bem no meio do tubo da onda, falando besteira e rindo na cidade de terra batida. No dia anterior, havíamos falado sobre ET's. I. esteve em Varginha, contou que os taxistas de lá se orgulham de terem levado gente da NASA para visitar a cidade. As histórias de lá são bem impressionantes.
No fim das contas, estava todo mundo com uma vontade louca de comer doce. Sonhamos com o crepe de chocolate que havia num restaurante próximo, mas, aparentemente, é folga de metade da cidade na quinta-feira, e quase tudo estava fechado. No meio do desespero, encontramos um sujeito que nos disse:
"Vocês querem sobremesa? Vão ao "Dragão Gelado", lá eles tem um monte de coisas diferentes. É só entrar na principal e seguir reto."
I. nos guiou com firmeza, afinal, ele já era praticamente mais um dos 500 habitantes da cidade. Está aqui há quase duas semanas. Mas, qual não foi a minha surpresa quando percebi que I. direciona sua caminhada para, nada mais, nada menos, do que o bar do Valtinho?! Bem, achei que ele sabia o que estava fazendo:
"É aqui o Dragão Gelado?"
Valtinho exitou por um segundo, eu acompanhava a situação um pouco mais afastada:
"Pode sentar, fica à vontade."
O coroa era malandro mesmo! Um filho da puta do bem. Perguntou se era "litrão", me deu um aceno e foi lá pra dentro. I., muito educado, adentrou com Valtinho o balcão de onde a figura trazia os sanduíches e quitutes:
"O senhor tem alguma sobremesa?"
Valtinho estranhou: "Errr... sobremesa? Como assim sobremesa?"
"É, sobremesa... doce..."
E então ficou subitamente alegre: "Ahhhh, doce, tem sim, tem vários doces pra vocês escolherem aí!"
I. ficou animado, e eu já gargalhava do lado de fora. Era óbvio, e eu sabia desde o início, que o tal Dragão Gelado só podia ficar para o outro lado.
Entre risadas com B., ainda ouvi ao longe a voz do Valtinho tentar convencer: "Ué, tem rapadura, melado, paçoca..."

Demorei um tempo para convencê-lo de que Valtinho era preto velho, malandro. Ele estava realmente convencido de que o nome daquele boteco, copo americano, cerveja de garrafa, era "Dragão Gelado".
"Essa porra é nome de lanchonete de cursinho pré-vestibular", falei para I., enquanto ele ainda achava que o sujeito que nos falou sobre as tais sobremesas pensava em rapadura.
Fala sério. "Dragão Gelado". Quando é que isso vai ser nome de boteco?
Ah, esses paulistas.

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