terça-feira, 3 de setembro de 2013

Agosto, 27 - 2013

3. Andei 1h e meia com as crianças e o guia até a cachoeira que se chama "Cariocas". Descobri depois que ela tem esse nome porque duas cariocas ficaram alguns dias perdidas por lá. Outra pessoa me disse que, na verdade, foram 3 cariocas que demoraram pra voltar, até que o povo se desesperou e foi procurar. Quando chegaram, estavam elas deitadas tomando Sol. Anos 80. Gostei mais dessa versão.
No grupo de crianças, havia uma que percebi ter alguma espécie de "distúrbio", "deficiência" - todas as palavras são péssimas - muito sutil - não sei exatamente o que ela tinha - mas perceptível. Depois de alguns bons mergulhos, percebi que ela falava, repetidamente, de conhecido a conhecido, algo como "eu deixei as migalhas caírem no chão".
Ela repetia isso, e eu estava completamente absorta na observação de um conjunto de peixes que, de modo muito interessante, se movimentava. Imersa nessa dança, sinto no calor do meu pescoço: "eu joguei a migalha do bolo no chão". Ora, então ela jogou as migalhas. Estava mais curioso, afinal.
"Eu também jogo tudo fora", era minha vontade de dizer, mas não pretendia embarcar nesse tipo de confissão naquele momento. Ao invés disso, disse: "Eu ouvi, você já falou".
"E aí?", ela me respondeu.
"E aí o quê?"
"E aí que eu joguei as migalhas no chão?"
Ela era mais dócil do que desafiadora, mas resolvi continuar:
"E aí que você pode catar uma por uma, ou deixar no chão, para uma formiga levar."
"Como assim?"
"É uma escolha. Você tem essa escolha."
Talvez eu pensasse nessa hora em quantas migalhas já fiz questão de catar, porque nunca desisto, porque gosto do gosto, porque é difícil.
"E o que você escolheu?", perguntei.
"Eu escolhi deixar no chão".

Nenhum comentário: