sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Agosto, 29 - 2013

Eu não sou fumante, mas gosto de fumar. Acredito mesmo que só gosto de fumar porque não sou fumante, mas isso é outra história.
Bem, a prova de que se trata mais de prazer do que de necessidade fisiológica - embora as duas estejam diabolicamente interligadas - é que no armazém da cidade só tinha Derby, e eu fiquei sem cigarros até o Valtinho, dono do bar da esquina, abrir o boteco.
Ia pedir só o maço, mas ele é pura lábia, "e o que mais, um litrão?". Acabei levando o tal "litrão" de Antártica, um litro de cerveja para a moça. Ele era um senhor robusto, muito simpático: "Você tá sozinha?", ele me perguntou, assim que peguei a garrafa.
"Sim."
"Então eu vou sentar com você!"
O bar estava vazio, mas era na beira da rua e volta e meia alguém passava para cumprimentá-lo. Ainda assim, conversamos bastante. Valtinho me disse que nasceu na Bahia, e sempre trabalhou com pedras.
"Já garimpei muito, já vendi demais, já fui roubado."
Ao que parece, ele vendeu esmeraldas para um sujeito que estava acostumado a comprar com ele. O cara deu "um cheque de 8 milhões e sumiu no mundo". O advogado disse para Valtinho que, para reaver o dinheiro, teria que matar o filho da puta. Que orgulho da profissão
Valtinho não mata nem mosca.
Perguntei como ele chegou em Goiás. A história é curiosa:
"Eu tava num bar em São Paulo, tinha acabado de vender umas pedras pruns indianos. Aí a imprensa fofoqueira - ele disse mesmo assim, estou transcrevendo, João - mostrou que tiravam pedras aos montes em Goiás. Então eu levantei e disse: 'Tô indo pra lá agora!' Passei na Bahia, falei pra minha mãe ajudar a arrumar as coisas, que eu tava partindo. Ela chorou muito, mas eu fui."
Em Goiás, Valtinho se apaixonou e ajudou a fazer dois filhos.
Eu e você tomando café lado a lado, entre mil e um cafés da cidade, entre milhares de habitantes.
Em cada escolha, uma vida.


Ele me disse que o segredo do cristal é limpar bem.

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