quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Promessas cretinas

Tenho lembranças de ter prometido a você que escreveria um texto doce;
âmago da poesia clássica, segredo dos romances, bossa nova, fim de tarde,
olhar de criança; flores.
Quantos doces já atravessam os dias, quando arregala os olhos para os quadros da vida.

Não que devesse,
mas quantos textos doces já não te escrevi, querendo, sem querer, em silêncio, em olhar,
em palavras de afeto que explodem
descuidadas,
por entre as farpas que trocamos.

Farpas flamejantes, que inclinam o leitor desavisado a pensar:
"como machucam!",
mas que bobagem,
são tão pequenas farpinhas...,
não diga que minam sua armadura, beliscam seu coração.
Que empreendimento ofegante para tão delicado azedume.

Claro que é possível
que a pouca potência das farpas que trocamos more na espessura do orgulho;
grosso.
Ainda assim são pontiagudas, e espetam e acumulam o açucar no fundo do copo,
grosso.

Quando prometi que te escreveria um texto doce,
tive medo.
E porque ainda tenho, temperei essa ante-sala vestida de eu-lírico,
com raspas do chocolate amargo que mordi,
uma dose de pequenas mentiras,
carapuças sinceras, paradoxos, contradições
e o pulsar
desse seu sorriso
pintado de sarcasmo
mas
me leve a sério,
diga a ele
que me leve a sério.

ou que só me leve, esse sorriso
enquanto eu quero ir.

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