segunda-feira, 5 de março de 2012

Imperativos

Larga:

meu poema,
minha cabeça,
e a ponta dessa lança
que você abraça

Esquece:

o meu pra sempre,
o meu passado,
essas mentiras,
e o gosto daquele beijo
no meio da rua

Lembra:

a minha mão,
procurando a tua,
dentro do casaco,
a tua mão,
procurando a minha,
em todos os rascunhos

Toma:

meu Poême,
meu presente,
meu futuro,

toma meu tempo,
quebra meu relógio

Abre:

os olhos,
a porta,
as pernas,
abre a boca e diz que quer
que eu fique

Fala:

que me ama
que te falta
meu poema,
minha língua,
e o gosto daquele beijo
estalado da sua

Cabe:

no meu abraço,
na minha vida,
e no meio,
das minhas coxas
que são tuas

Lava:

essa louça,
essa mágoa,
esse orgulho,
essa saudade que só ela

Volta:

pro meu colo,
pro meu poema,
pro meu futuro,
pra chuva daquele beijo

Faz:

daquele jeito,
como se fosse a última

Faz pra mim:

um desenho de camelo,
uma torta de limão,
um filho, dois,
uma pose renascentista,
minha flor,
o que pintar por aí

Guarda:

cada letra,
cada carta,
cada coragem
de viver
guarda

Luta:

quando doer,
se estranhar o espelho
e não souber mais quem é
quem

Recomeça:

todo o tempo te espera
sem pressa
agora

Ouve:

meus imperativos se confundem
entre o sim e o não
me sinto estúpida,
não faço sentido

Olha:

se você canta músicas
que não existem
antes de dormir,
eu acho lindo;
o nome disso é
inspiração
mas sou tão dura comigo
quando esqueço a coesão

Me ajuda:
a perder os sentidos

Diga baixinho assim:

eu te amo,
isso é uma janela.

Eu digo assim:

eu te amo,
isso é um martelo.








Veja só:

somos realmente felizes
quando a incoerência
não dói.

2 comentários:

Bárbara Gontijo disse...

PUTA QUE PARIU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



Não tenho comentários.
Acho que ouso dizer que foi, dos seus textos, o mais lindo que já li.


VC É MUITO ESCROTA!

Karine Reis disse...

Eu coloco pra comentar, mas nao tenho o que dizer.