domingo, 1 de maio de 2011

Aos 13

(Gulosa):

"Ando pela adolescência, bem devagar, para que ela não passe tão rápido quanto passou a minha infância. Quando criança, escutava Cazuza, andava de patins, subia em árvores, lia mais do que comia e no jogo da verdade, minha "consequência" era sempre dar estalinhos nos amigos. Hoje, os patins não cabem mais nos meus pés e as pessoas costumam perguntar se eu não vou parar de comer. Eu ? Bom, eu digo que ler queima calorias."

(Exagerada):

"... O apetite ainda estaria vivo não fosse a mão que me subia.
Orgulhava-me quando nos jantares em família, havia a indagação: não tem namorado não, menina? Adorava nossas reuniões, e era sempre tão espevitada, tão cheia de esperança.
Deixava que respondessem de prontidão: Que nada! Ela ainda é criança!
Pois lá estava eu, infante, diante de um sujeito indecente.
Um eterno e termo enjôo me consumiu por um segundo,
A impressão é de que nunca mais sentirei fome novamente."


(Uma das coisas mais divertidas que me aconteceu recentemente foi descobrir uma pasta de textos antigos num computador que quase não uso mais. Confrontar o passado é uma experiência muito curiosa. Tão curiosa que, a partir dessa reflexão, decidi que as aspas ficariam bem nos textos acima.
Não pretendo, com isso, insinuar que não me vejo em você, garota. Minha citação pretende muito mais respeitar nossas individualidades e reconhecer que o ontem e o hoje são dois eu's de mim.
Claro, seria muito difícil olhar o passado e pensar que contemplo a mim mesma, se eu não reconhecesse tantas semelhanças.
Quer dizer: se houvesse um devir cruel e eu resolvesse virar evangélica, parar de comer chocolate ou vibrar com o casamento do príncipe da Inglaterra, que menina seria aquela? Seria eu?
É claro que mudei muito, mas, posso dizer que, no que escrevi aos 13, reconheço o que sou hoje, em contorno.
Poderia não ser assim. Poderia ser radicalmente diferente e seria muito divertido, inclusive.
Porque somos vários. Em potencial, ao mesmo tempo e ao longo da vida. Sim, minha personalidade se constrói de maneira mais ou menos linear.
Mas, embora eu reconheça a menina de língua ferina que era quando escrevi aos 13, valorizo o múltiplo e o "nada" como possibilidade de definição para o "ser". A cada ano. E mais.)

2 comentários:

Thaís disse...

Sei como é isso...
"Não sou mais eu, mas está tudo dentro de mim".

Pedro B. disse...

observar os eu's dos passado sempre deixa a dúvida de como eu virei esse eu de agora.