sexta-feira, 17 de setembro de 2010

12/06/2007

Li certa vez um escritor conhecido, talvez Mario Quintana, falar sobre o quanto repudiava textos datados. Segundo ele, se bem me lembro, era como imprimir um rótulo.
Na época, me senti particularmente afetada, porque sempre gostei de marcar as datas dos meus textos. Na releitura, era como "sentir o cheiro do dia". Ou seja, um estado de espírito específico, que provavelmente ficaria esquecido, é eternizado naquelas linhas.
Digo isso porque a data dessa carta é emblemática: 12/06/2007. Vulgo: dia dos namorados. Meus amigos mais próximos certamente estão achando o post pouquíssimo convencional, a começar pelo papo de datas vindo de mim, totalmente desmemoriada.
Além disso, trata-se de um texto ingênuo, de uma adolescente de 15 anos. (embora muito significante).
Mas, tudo isso é, de fato, inédito: minha primeira paixão inspirou minha primeira carta de amor que foi minha primeira publicação.

Lembro do quanto me senti confusa quando a professora de português passou a proposta. "Pessoal demais!" "Será que invento uma personagem?" Sempre tive horror a expor meus sentimentos de modo tão óbvio e simples, como sugere uma típica carta de amor. (Sobretudo tendo como endereço o Pedro II)
A saída? Foi a coisa mais piegas e clichê que já fiz: deixei meu coração falar por mim. Sem marca-passo, bombeou franqueza.

Niterói, 12 de junho de 2007

Peço licença para deixar meu coração falar, uma vez que a dona da mão esquerda que lhe escreve é fraca, fria e não ama ninguém. Hum, é fato também que não sabe mentir, e, por isso, passa a palavra àquele que anda a pulsar descompassadamente por você e nem mesmo ousa negar. Bem sabes que coração não mente.
Ele diz que quando você se aproxima, esquece completamente o ritmo normal a que obedece, de mais ou menos setenta batidas por minuto. Disse que quando você toca o meu rosto e sorri, multiplica esse número por um infinito de estímulos, que, contrariando a razão, fazem meu corpo se aproximar. Diz que quando você toca os meus lábios, emite ondas de calor para cada parte do corpo e, por isso, é responsável por torná-lo moradia aconchegante para as suas mãos.
Mas, meu coração se queixa por deixá-lo apertado a cada despedida e confundir-lhe as funções, fazendo-o errar as veias e bombear quantidade exagerada de sangue quente, deixando marcas avermelhadas ao longo do meu corpo, além do rosto corado.
Disse a mim, também, que anda a ter brigas constantes com a Razão. O que me deixa triste, afinal, sempre fomos amigas - mas, cá pra nós, acho que ela ficou com ciúme, porque, por culpa sua, o coração tem sido bem mais requisitado.
Ele manda dizer, por fim, que anda a ser vítima de pequenas explosões, que, segundo o parecer, são causadas ao menor sinal de sua presença. Além das grandes, que o atingem no mesmo momento em que nossas almas se encontram, imitando a coreografias dos corpos. E então, reinventamos os minutos que passam no relógio e perdemos todo o controle sobre a respiração.

Você fez meu coração falar e sentir.

Beijos sem fim...

Um comentário:

Bárbara Gontijo disse...

Você fez meu coração sentir.
E fez meus olhos derramarem lágrimas.