sábado, 6 de novembro de 2021
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eu quero o poema que está
desenganado à própria sorte
um poema com quê de humano
um poema de vidro
tão frágil quanto tão forte
de verso que carregue a morte
a cada passo
em cada pé
ao pé do ouvido
eu quero o poema que guarda no ventre
a rima derradeira
gerada e parida em local ainda não sabido
eu quero o poema que debruça na beira
o verso que não sabe quando já terá
morrido
eu quero o poema
que carrega o avesso na barriga
o verso que traz em si o seu desconhecido
quero do poema
até o último sustenido
o verso mais íntimo do fim
mas que do fim não sabe nada
eu quero o descaminho da estrada
o último suspiro
o parto e a partida
a veia incerta
a perna aberta
a ocitocina
eu quero carregar no colo o filho
de um poema que termina
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