Contemplo hoje o quadro de um desconhecido. A emergente colecionadora se emociona ao vender fotografias antigas em troca da art nouveau. Ela, aflita diante de um quadro sem autor, forja assinatura de renome; assina Álvaro de Campos na figura campestre. Pessoa, mestre fingidor, vibra.
Nunca vi heterônimo pintor, nem poeta que preste.
Contemplo então o corpo de uma desconhecida, a posar. Vejo agora a art nouveau fotografada. Ele te foca e faz da luz cores de deserto. Eu vejo.
Caminho firme e lanço a bússola do desencontro: nem sul, nem norte - à nordeste.
Atravesso a frente da lente. Te ponho nas costas, carrego teu corpo comigo.
Impeço a concretização de tamanho perigo; ninguém suportaria a eternidade do seu olhar.
Só os amantes.
Seu corpo foi feito pra um poeta assinar.
T. L.
2 comentários:
Simplesmente suave e brilhante.
Tainá agora em prosa. Terreno preferido, eu sei.
Empírico.
"Quando crescer quero escrever como você!" rs'
Intimidade com as letras. O que pra mim parece um "parto", aqui sai tão naturalmente.
As palavras te perseguem
Imagina, queridão... você é ótimo! Agradeço os elogios.
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